quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Condicionar!

Lembram-se de Mário Jardel? Claro! O tal “tosco sortudo” que marca sempre de cabeça ou um incomparável rematador, inseparável amigo do golo. Pois é! Havia sempre dois ângulos de ver Jardel. No fundo, como o próprio golo. Um fabuloso pontapé que ainda tocou no defesa ou a “vaquinha” de um auto-golo são legendas de um mesmo “trailer”.

Sobre Jardel se deliciou também o lugar comum lusitano com o refrão “marca porque lhe as metem lá!”. É certo que Jardel condicionava a sua equipa. Mais certo ainda é que quase sempre a condicionava a ganhar, bastando-lhe somente “bola na área”. Com origem nas faixas ou num apoio próximo jogada para o Super Mário era garantia de sucesso. Porque não interessava de onde vinha mas para onde ia. 4x3x3 ou 4x2x2 era apenas só isso para Jardel.

Por falar em golos, em modelos de jogo e em condicionar”. Sabem quem é Liedson? Um goleador? Correcto! Incansável trabalhador? Certíssimo! Mas Liedson é também um reivindicativo. Exige companhia lado a lado e não alinha com qualquer um. Pede um prodígio táctico versão Derlei e dispensa modelos de umbigo grande tipo Vukcevic. Chega a parecer sindicalista quando os seus movimentos se manifestam junto aos vértices laterais do lego selado de Bento, exigindo adaptação constante das outras peças.

Jardel queria jogo em zona de ultimo toque. Liedson quer tocar varias vezes antes chegar à área dos decisivos.

Jardel jogou pela Canarinha, mas pouco para ter tempo de condicionar. Liedson vai jogar com as nossas Quinas e já começou a “reivindicar”. E Queiroz ouve-o….

Caro Professor, ouça-me mim também, pelo menos uma vez. Se Simão jogar na esquerda do losango coloque Liedson na meia esquerda do ataque. Sim, porque assim marcaremos um golito em transição ofensiva. Sim porque assim Liedson estará a condicionar à Jardel!

Pirlo e outros...

Fui à Luz ver o Milan. O SLB tem ganho, joga bem e então vamos lá numa de “ir à bola”. Não há pressão e pode viver-se a festa.

Ronaldinho está no banco, já não Kaká naquelas bandas e o Nesta não me encanta. Ok, posso então olhar para o jogo sem a mania das análises.

Bom início do Benfica. Pouco depois, atrás de mim, ouço: “O libero do Milan adianta-se muito”. Já tinha dado entretanto pela minha falha. Havia esquecido Pirlo. Imperdoável ou apenas a pouca afeição pelos génios que vivem a técnica carregada pelos genes.

Os meus olhos bateram então não no libero, nem no trinco, mas em Pirlo. Este 10 convertido em 6 engana os desatentos porque começa a jogar junto aos centrais, e confunde os mais clássicos porque não varre à frente da defesa; arruma entre linhas.

Pronto, lá se foi o “joguinho da bola”. Há uma análise para fazer. Comecei a ouvi-lo falar com o jogo. Até o escutei a explicar opções aos companheiros. Uma, duas para Pato. Luisão está bem, agressivo e prático. Não é por ali. Uma, duas, três para Borrielo. Melhor! Há menos pressão do lado de Sidnei e David está sempre em apoio ofensivo. Vamos Borrielo, outra…

Uma, duas, três, quatro… a 40 metros, de primeira… quase sempre! Estou covencido, só há um!

Pelo meio observo: “Leonardo, o Gorducho Gaúcho dava aqui jeito!” Pirlo quer companhia ou apenas partilhar a batuta, porque é uma fase em que todos começam a ficar mais longe dos seus passes.

Andrea Pirlo, vê e escolhe. Pensa e decide. O jogo, boa parte dele, é seu! É Pirlo quem diz onde se joga. E eu rendo-me à sua palestra!

Gosto de falar de Futebol...

Gosto da mesa do café e gosto de não gostar de ouvir falar de bola. Gosto de falar depois de quem fala de bola. Não gosto de ouvir quem diz que é simples. Gosto de tentar explicar que o não é. Gosto de falar de Futebol. Gosto de falar do jogo e das peças. Gosto de tentar perceber os espaços e analisar os ritmos.

Gosto da mesa do café e gosto de não gostar de ouvir as aves agoirentas. Gosto de tentar suavizar fervuras de quem arrasa depois do 0-1. Não gosto de ouvir quem já não quer ver mais. Gosto de tentar explicar porque ainda temos tempo. Gosto de falar de Futebol. Gosto de falar das nossas armas e dos números. Gosto de tentar perceber a reacção colectiva e analisar as estatísticas.

Gosto da mesa do café e gosto de não gostar de ouvir os imparáveis de 1º parte. Gosto de duvidar de tanta eficácia quando ouço arriscar o pai do 3º golo. Não gosto de ouvir quem avisa que este ano não damos hipóteses. Gosto de tentar explicar porque temos lacunas. Gosto de falar de Futebol. Gosto de falar do perigo de conceder uma jogada de golo e da quebra de intensidade. Gosto de tentar perceber a gestão da posse de bola e analisar os equilíbrios.

Agora gosto da mesa do café e gosto de não gostar de ouvir os Vieiras. Gosto pensar que não é bem assim quando se repete que “esta é a melhor dos últimos anos”. Não gosto de ouvir quem elege príncipes os vilões de pés quadrados da era Quique. Gosto de tentar explicar porque é cedo. Gosto de falar de Futebol. Gosto de falar dos típicos lesionados de Jesus e de que uma segunda é mesmo uma segunda escolha. Gosto de tentar perceber adaptações e analisar motivações para 15 minutos.

Agora também, gosto da mesa do café e gosto de não gostar de ouvir duvidar. Gosto de pensar que vai mais longe o homem que para alguns não chega a Dezembro. Não gosto de ouvir quem não percebe o bloco alto. E gostava de tentar explicar a importância do 2x1 sobre o portador da bola. Gostava de falar de Futebol. Gostava de falar da velocidade dos centrais neste modelo e da riqueza da posição 6. Gostava de tentar perceber o aparente losango e analisar as rotinas de saída.

Gostava… mas agora, naquela hora e meia, gosto mesmo é de ver o “Benfas” do Jesus a jogar à bola!